Dominação vs. Sadismo
Diferenças e similaridades entre o Sádico e o Dominador
Dominação e sadismo são dois termos que podem muito bem ser confundidos. Embora uma pessoa possar ter ambas as características (dominador sádico), as definições de cada palavra são bem distintas.
Fuçando o amado Google, encontrei um texto muito interessante que define e diferencia o sádico do dominador. Adorei a comparação por que daí falamos sobre duas das letras do nosso amado BDSM
Há algo que aproxima (bons) Sádicos e Dominadores: a percepção exata do outro. Tanto para Dominar quanto para exercer o Sadismo, é necessário que se saiba exatamente quem está ali, diante de si, com disposição para a parceria. Para tanto, há qualidades imprescindíveis que devem estar presentes em ambos: tenacidade, sagacidade, senso de observação e de oportunidade, argúcia. As semelhanças, contudo, param por aí.
Um grande ponto os distingue e torna o caráter da Dominação e do Sadismo algo inteiramente diverso (embora possa haver – e haja, bem o sabemos – pessoas que se comprazem tanto em dominar quanto em provocar sofrimento): O modo como cada um lida com a questão do prazer do seu parceiro.
Para o Sádico, Seu prazer está exatamente em negar prazer ao masoquista, em provocar dor, arrancar-lhe sangue e lágrimas. Em um outro texto, fiz a seguinte consideração a respeito da idéia relativamente comum de que Sádicos são indiferentes àquele que a eles se dispõe:
“É importante, para o Sádico, que o seu parceiro não sinta prazer naquele seu gesto (e, claro, é importante para o Sádico BDSMista que esse seu parceiro seja capaz de transformar intenso desprazer em intenso prazer para que o SSC seja obtido). Portanto, conhecer todo o repertório de desejos, aversões, fobias, limites, medos, demandas, enfim, prazeres e desprazeres do masoquista é fundamental para que a relação se estabeleça como sadomasoquista. Não concebo o Sádico como indiferente a todo esse repertório, posto que não lhe interessa apenas infligir dor, mas lhe interessa que o outro a perceba e a sinta como dor. Um Sádico que, por mais dores (físicas ou psicológicas) que acredite estar provocando em seu parceiro, não lhe cause nada além de cócegas, rapidamente se exaurirá dessa relação – ou procurará conhecer qual o calcanhar de Aquiles daquele indivíduo“.
Em última análise, o Sádico busca a dor do masoquista e nela se deleita no desfrute do que Machado de Assis define no conto “A Causa Secreta” como “um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma cousa parecida com a pura sensação estética.”
Já o Dominador lida com o prazer da submissa de forma diversa. Ele busca o seu prazer, Ele a seduz pelo prazer, Ele deseja que ela sinta intenso prazer, pois o prazer da submissa é instrumental poderosíssimo em Suas mãos. Através do prazer, Ele a controla e a domina, conduzindo-a exatamente ao lugar que Ele quer que ela vá. O prazer da submissa não é fim em si mesmo (ao contrário do que é o não-prazer da masoquista para um Sádico), mas é meio (um dos) pelo qual o Domínio vai sendo costurado. Que disso não se depreenda que o Dominador está refém dos prazeres de sua submissa, longe disso, Ele simplesmente tem um conhecimento pavloviano acuradíssimo e sabe exatamente quando, onde, como e porque oferecer-lhe cotas de prazer para torná-la mais dócil aos Seus comandos.
Para quem não lembra de Pavlov das aulas de biologia, ele conseguia fazer com que seus ratinhos de laboratório suprimissem seu instinto de evitar estímulos elétricos dolorosos simplesmente por oferecer-lhes recompensas prazerosas quando para esses estímulos eles se dirigiam – a isso ele chamou condicionamento reflexo, mas poderíamos bem chamar adestramento, sem nenhuma perda de sentido.
Enquanto, para servir a um Sádico, é condição necessária e suficiente disponibilizar seu corpo e sua matriz emocional para a dor, para servir a um Dominador a disponibilidade dúctil precisa estar aliada à disposição da submissa de dar seus próprios passos seguindo
Aquele que lhe conduz. Em palavras mais simples, o Sádico quer que a masoquista esteja ali, o Dominador quer que a submissa vá ali. O objetivo do Sádico, o manancial de onde ele extrai prazer, é a dor da masoquista (e para isto basta que ela seja quem ela é, alguém que se compraz na dor), enquanto que a fonte de prazer do Dominador é observar e supervisionar o exercício ativo da caminhada solitária – mas não desamparada – da submissa em Sua direção, num processo em que a dor que porventura surja nesse caminho (e surge, já que trata-se de uma pessoa sujeitando-se a outra) torne-se absolutamente irrelevante quando comparada ao prazer acenado por aquele que Domina. Em outras palavras, à submissa não basta simplesmente ser quem ela é, mas que esteja disposta também a tornar-se aquela que Ele deseja para Si.
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